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padre Floris

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terça-feira, 1 de junho de 2010

Testemunho

O texto do Hilario ja trouxe algumas reações e partilho especialmente a do Felipe da Silva Freitas que é o jovem responsável pela Campanha Nacional contra o exterminio de jovens.

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Amado Hilário,

A profecia de suas palavras chegaram ao meu ouvido. Seu compromisso juvenil, marcado com o fogo revolucionário do espírito, inspiraram-lhe a romper o silêncio nefasto que, muitas vezes, ameaça a vida e a dignidade da nossa juventude. Você me encheu de esperança com seu texto!

Concordando com tudo o que apresentas em tua reflexão, fico a pensar ainda no quanto temos deixado morrer nossos grandes acúmulos no que tange a evangelização da juventude. Como é grave a falta de assessoria. Falta assessor(a) jovem, falta assessor(a) adulto(a), falta assessor(a) religioso(a), enfim, é uma carência que ameaça a sobrevivência de grupos e deixa sem apoio dezenas e dezenas de jovens que, antes organizados(as) em grupos de base, agora vagueiam entre as várias "castas eclesiais" em expressões religiosas que respeito mas que, sob nenhuma hipótese, podem ser chamadas de pastorais da juventude ou de células de base do processo de educação na fé, como antes vinhamos lhe batizando.

Ora, como vamos refletir sobre tudo isso num contexto de Congresso Latino Americano? Como pensar a evangelização e os frutos no pós-Documento 85? Como avaliar os impactos da Campanha Nacional contra a violência e o extermínio de jovens na perspectiva de denunciar a morte, defender a vida e apresentar propostas concretas de fortalecimento do tecido social na perspectiva do empoderamento juvenil e na construção da política como alternativa social num contexto violento e desumanizador?

Fico com todas essas questões divagantes em minha cabeça e em meu coração.

Na coordenação da Campanha Nacional contra a violência e o extermínio de jovens pude rodar o Brasil no ano passado conhecendo espaços importantes da articulação da evangelização da juventude. Tal experiência, se por um lado me encheu de esperança no sentido de ver a criatividade e as multiplas formas organizativas que a juventude vai fazendo na base, por outro, me entristeceu, na medida em que violentamente me indicou que nós, Pastorais, Centros e Igreja de um modo geral, temos sido incapazes de recepcionar toda a criatividade e a esperança juvenil lançadas no mundo como sementes do reino.

Nossa capacidade de articular, de organizar, de sistematizar, de pôr em intercâmbio as experiências está muito, muito aquém da velocidade e das demandas que a juventude cotidianamente apresenta e aí, temos um verdadeiro descolamento entre os interesses da juventude empobrecida, de quem nós enunciamo-nos como parceiros, e os discursos das lideranças politizadas ou dos assessores(as) bem formados(as), muitas das vezes senhores de suas próprias razões e não missionários de uma evangelização popular.

A notícia do fechamento do IPJ - RS chega a mim dentro desta conjuntura de profundo assombro perante uma crise séria. Não conheço exatamente as articulações e as histórias do IPJ RS para poder sobre este fato específico tecer comentários maiores. Contudo, posso sobre esse episódio específico lançar duas posições uma a título de depoimento e outra a título de reflexão:

1) Mesmo nunca tendo pisado na sede do IPJ RS e nunca tendo tido qualquer contato direto com este Instituto também me sinto de certo modo filho do IPJ RS assim como somos filhos e filhas desses Instituto as centenas e centenas de jovens, que, em todo o país, aguardaram ansiosos a cada novo material, a cada fita VHS, a cada panfleto ou jornal que, do sul, era distribuido nos encontros nacionais e rodavam o país como instrumento de formação de grupos de jovens.

Como muitos e muitas fui formado pelo material das atividades permanentes, pelas cartilhas da CAJU, pelos jornais Mundo Jovem, e, entre outros subsídios pelo FASCINANTE E AINDA ATUAL "Caminhando e Crescendo".

Saber desta triste notícia sobre o IPJ RS é, de algum modo, saber que parte da nossa história (da juventude católica) está sendo arrancada de sua casa.

2) Uma segunda questão é um tentar inserir este fato no contexto, pois, como você mesmo nos ensina todo dia, grande Hilário, não tem texto sem contexto.

Ora, porque as crises financeiras, de recursos humanos, de apoio logístico atingem apenas, ou, principalmente, a nós? Porque, num momento em que a "questão juvenil" encontra-se tão em alta uma organização pioneira nesse debate entra em colapso? Porque faltam vozes como a de Hilário para bradar questionando o silêncio ante a crise nesta bela experiência intercongregacional?

A resposta a estas perguntas e às outras que antes formulei talvez estejam na necessidade de recomeçarmos alguns caminhos em defesa de velhos princípios. Educação Popular, Metodologia de Base, Apoio às pequenas organizações, Evangelização Inculturada, Celebrações Fé e Vida, são bandeiras que precisam ser reerguidas a partir dos novos desafios do século XXI.

Nas minhas andanças na Coordenação Nacional da Campanha contra Violência e o Extermínio de Jovens senti (tenho sentido) a solidão como um grande desafio. A falta de estrutura para as pastorais, os problemas de comunicação entre as lideranças nacionais, a falta de assessoria na base e a insuficiência de espaços para a formulação acadêmica e política sobre juventude dentro da Igreja. Quanto nós, jovens da Igreja, temos sofrido com essas faltas todas.

Como depoimento, devo dizer que tem sido sofrida a tarefa de atuar na coordenação nacional sem que exista, por parte da Igreja, um aparato suficientemente forte (como de certo modo vimos criando nos últimos 30 anos, o IPJ RS é só um exemplo disso) capaz de acolher as necessidades, sonhos, projetos e utopias juvenis. Repito, a Igreja não tem sido boa acolhedora da ousadia juvenil.

Quando a Igreja não nos apequena no sentido de pedir-nos paciência, calma, tolerância, ou, em várias outras palavras, menos profecia e mais conservação e tem nos relegado uma condição de certo abandono, pois, depois de formar-nos e permitir que sonhemos muito e muito alto não nos dá o aparato necessário para continuar a crescer e aí o sentimento é de abandono, frustração e isolamento (confesso que me sinto um pouco assim).

"Cria-se um filho para depois matá-lo"

Óbvio, não quero negar o quanto a Igreja para mim é decisiva no meu processo de descoberta pessoal e comunitária, na construção de laços sociais profundos, no enrriquecimento do meus conhecimentos e na minha formação acadêmica e política, sem falar na sólida base moral e nas efetivas oportunidades de vivência comunitária e de experiência democrática. Contudo, parece que a "corda que nos foi dada" uma hora será puxada para que regressemos ao estreito limite do terreiro e aí, quando "puxam a corda" colocam-nos diante de uma difícil questão: rompê-la, e por conseguinte abandonar a experiência pastoral, como é a opção de muitos companheiros; ficar com a corda esticada apertando o pescoço e sofrendo com a solidão e o abandono; ou, regressar e acomodar-se no pequeno campo estabelecido abandonando qualquer turbulência em relação ao poder institucional.

Me parece que esta imagem representa bem o momento em que temos vivido.

Assim, solidarizo-me à sua angústia e aos seus questionamentos, amado Hilário, e digo-lhe que me alimento da sua utopia que é também a do próprio Cristo e de tantas e tantos amantes da juventude como fora o também querido Pe. Gigi de quem este mês celebramos a Páscoa.

Encerro com a esperança dos Cristão e Cristãs que, em meio a morte, afirmam a vida como insistência insubordinada que persiste nos meios mais adversos. Que venha o Congresso Latino e nos permita sempre sonha como o novo céu e uma nova terra....

Abraços, cheiros, beijos e carinhos,

Felipe

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