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padre Floris

padre Floris

sábado, 3 de julho de 2010

Pós Graduação - Segundo Módulo


Terá início, em Goiânia, na Casa da Juventude Pe. Burnier, o Segundo Módulo da 6ª turma de Especialização em Juventude Contemporânea, promovida pela Rede Brasileira de Centros e Institutos de Juventude, em parceria com a FAJE (Faculdade Jesuíta de Belo Horizonte) e com apoio do Setor Juventude da CNBB.

O curso realiza-se em três módulos presenciais: 07 a 30 de janeiro de 2010, 05 a 24 de julho de 2010 e 10 a 29 de janeiro de 2011, com aulas de segunda-feira a sábado.

Assim eu já me encontro aqui em Goiânia na CAJU para mais etapa. No decorrer do Curso estaremos dando noticias de sua evolução.

Saiba mais:
A Especialização em Juventude Contemporânea busca aprofundar o conhecimento teórico, prático e científico sobre a adolescência e juventude contemporânea, capacitando formadores/as, educadores/as e outros/as profissionais frente ao fenômeno juvenil, às políticas públicas e às práticas sociais que se impõem nos diferentes níveis: local, regional, nacional e internacional.
Maiores informações: posjuventude@casadajuventude.org.br.

Em continuação à comemoração aos 10 anos da Pós-Graduação em Juventude no Mundo Contemporâneo, promovido pela Rede Brasileira de Centros e Institutos de Juventude, acontecerá, na Casa da Juventude Pe. Burnier, nos dias 09 e 10 de julho, o II Seminário “Perspectivas de Juventude”.
O seminário é destinado a alunos/as das edições anteriores do curso de pós-graduação em Juventude No Mundo Contemporaneo, especialistas em juventude, Rede Brasileira de Centros e Institutos de Juventude, Observatórios de Juventude, estudantes, pesquisadores/as, professores/as, jovens dos diversos grupos e interessados sobre a temática juvenil.

PROGRAMAÇÃO:
09/07/2010 (sexta-feira)
• 8h30: Acolhida e abertura do Seminário
• 9h30 às 12h: MESA 1 - Juventude e Trabalho
• Debatedor:
• Prof. Dr. Candido Alberto da Costa Gomes. UNESCO, Cátedra de Juventude. Educação e Sociedade. Professor do Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Católica de Brasília - UCB.
• Coordenação: Prof. Msª Vanildes Gonçalves dos Santos. Coordenadora Pós-Graduação Virtual da UCB e professora da Pós-Graduação em Juventude no Mundo Contemporâneo.
• 14h30 às 17h30h: MESA 2 – Órgãos de Controle de Políticas Públicas para a Juventude
• Debatedores/as:
• Renildo Lucio, Especialista em Juventude no Mundo Contemporâneo.
• Alexandre Piero, Especialista em Juventude no Mundo Contemporâneo e membro do Conselho Estadual de Juventude de São Paulo.
• Eudes Medeiros (Índio), Presidente do Conselho Estadual de Juventude de Goiás.
• Coordenação: Janaina Firmino dos Santos - CAJU.
• 18h às 19h: Lançamento de livro e confraternização.
10/07/2010 (sábado)
• 8h30 às 12h30: MESA 3 – Novas Mídias na Linguagem Juvenil
• Debatedores/as:
• Claudia Valente Cavalcante – Mestranda em Educação - PUC/GO.
• Wolney Fernandes de Oliveira – Mestre em Artes Visuais - CAJU – UFG.
• Edina Lima Cardoso - Especialista em Juventude no Mundo Contemporâneo.
• Coordenação: Rafael Parente de Sá – IPJ/SP

quarta-feira, 30 de junho de 2010

Assessor Sim, Dono Não!

Amigos e amigas. Neste mes de julho, exatamente no dia 16, completam-se 13 anos da partida de nosso querido e inesquecível FLORIS para a casa do Pai. Como uma homenagem posto hoje este texto que tenho de sua autoria. Como perceberão o texto está incompleto. Foi trasferido de um antigo diskete, daqueles antigos, mas é um texto atual para se refletir sobre a assessoria. Se por acaso alguem tiver o texto completo partilhe conosco.

PE. FLORISVALDO SAURIN ORLANDO, CP.

Pe. Florisvaldo, conhecido melhor como Pe. Floris, nasceu em Padre Nóbrega-SP, a 24/02/1952. Foi ordenado presbítero a 03/02/1980 em Paranavaí (PR). Em 1981, a Província Passionista do Calvário, com sede em São Paulo, o destinou para ajudar os co irmãos de Goiás e a Diocese de São Luís de Montes Belos. Dom Stanislau logo o nomeou assessor diocesano da Pastoral da juventude, cargo que ocupou até 1989, quando passou a assessorar a PJ (Pastoral da Juventude) Nacional. O esperado encontro com o Senhor aconteceu em Goiânia (GO), na madrugada do dia 16 de julho de 1997.


Assessor Sim, Dono Não!
Pe. Florisvaldo Saurin Orlando.

No artigo anterior [JUVENTUDE n”70] dizíamos que cada grupo deveria ter um assessor fixo que conhecesse sua caminhada e acompanhasse seu processo de crescimento. Também falávamos do protagonismo dos jovens e da Função do assessor de grupo: iluminar as decisões dos jovens, não decidir por eles!
O “grupo da Maricota” tem um simpático casal de “tios”. Outro tem urna “madrinha”, Certa paróquia tem um “casal dirigente” para cada grupo. Todos eles “gente boa”, vindos de algum movimento de Igreja. Fazem de tudo pelo seu grupo: providenciam passeio, promovem festinhas, dão conselhos, zelam pelo bom comportamento, ensinam, dão palestras ou dirigem as reuniões, quebram galhos... Mas seus grupos parecem mais um bem organizado “Jardim de Infância”! Só falta botar todos em filinha de mãos dadas na hora de atravessar a rua. Porque na verdade os jovens do grupo são tratados como crianças. E o pior é que gostam, se comportam como crianças e pennanecerão infantis para sempre se não se quebrar esse tipo de dependência.
A presença do adultos, especialmente de um casal, no grupo de jovens pode ser urna bênção. Mas como assessores, não como tios, padrinhos, dirigentes... “donos” do grupo. As vezes aqueles títulos são usados ingenuamente. Mas na maioria das vezes eles denunciam o tipo de relação que se estabelece: unia presença paternalista, que gera nos jovens unia atitude de dependência. e que tornará adultos passivos (ou também paternalistas) e não cidadãos críticos, criativos, sujeitos de mudança e construção de urna história melhor.
A questão principal não é o título, mas a atitude, a pedagogia utilizada. Nós adultos ternos urna tendência ao paternalismno ou autoritarismo. O sistema social, familiar, educacional e eclesiástico tem formado para isso. Muitos Movimentos de Leigos, de onde vêm os adultos que se dispõem a trabalhar com os jovens, possuern urna pedagogia pouco libertadora (baseada em palestras, por exemplo), que reforçam essa atitude. Depois eles trazem seus “vícios pedagógicos” para o grupo, contrariando a proposta pedagógica da PJ - Pastoral da Juventude - que quer desenvolver o Protagonismo dos Jovens.
O que fazer? Os jovens devem lutar por seu protagonismo, não dispensando os assessores, mas exigindo que estes ocupem seu lugar próprio. O adulto que se dispõe a trabalhar com os jovens precisa capacitar-se para isso, conhecendo a proposta pedagógica da PJ, o papel do assessor e, sohre!udo, vigiando-se e revisando suas atitudes para livrar-se dos “vícios pedagógicos” que sua formação lhe incutiu. Os responsáveis pela PJ na paróquia, diocese ou região, precisam proporcionar a esses adultos os meios para sua formação e aperfeiçoamento como assessores de jovens. E no caso de alguns “donos” de grupos que sejam “incuráveis”, arrumar um jeito de se mandarem. Melhor não tê-los. Nem sê-los!
A ssessor, bicho raro e necessario!

~edi questões de temas e proble¬mas da Vida em grupo a serem tratados aqui.
1) pedido continua de pé. Aleuéitm immdaeou: ‘1: a /11(”Jao dv (IdulIOx que e.~¬loa 110) ~rupos Cofio doiios ‘. 1/00 (0)110
(IXACVN0/CX, /)OfX (1 lÍXW) deles e Jfiul(’i/ld¬l~!a C 1/00 (0/li ril~ui. Cø~i~~ iraball,u e ~ 1 1’alcmos. entao. de Assessoria.

1- Nos t!rtllX)5 dii 11 — Pastoral da Juventude — os jovens são os protagonistas. Eles são sujeitos e não apenas destinatários da ação evangelizadora. Para serem sujeitos de historia exige-se uma pedagogia que favoreça sua participação comoi sujeitos desde a entrada no grupo. Isso significa que são eles que devem definir e decidir sua caminhada como grupo.

2. O protagonisrno) dos jovens não dispen¬sa a assessorma e nem significa que a Igre¬ja e a PJ não possam ter urna Proposta para eles. Não signitica que cada grupo) tenha que ‘‘partir do zero’’, inventando tu¬do. Há um “saber acumulado” (experiên¬cias, marco) doutrinal, princípios pedagó¬gicos, metodologias etc) que pode e deve ser colocado à disposição do grupo, sobretudo através da assessorta,

3. Assessores sao, portanto, Adultos (ca¬sal, irmã, rcligio)so, padre) OU Jovens (que passaram pelo processo de formação), que possuem aquele saber e experiência e que.
sem serem do Grupo, Estão no Grupo para Acompanhá-lo, Apoiá-lo, Orientá-¬lo, ajudando-o a construir o seu caminho apropriando-se do “saber acumulado” e criando o proprio. A função do assessor é a de lluniinar as Decisões do Grupo e não a de Decidir por ele!

4. Sem assessoria o grupo não caminha. Ou caminha com mais dihculdade. Geral¬mente o padre, sobrecarregado de traba¬lhos, dá seu “apoio moral” (ou nem isso!). faz uma visitinha, passa algum material. A equipe paroquial de coordenação e assessoria (onde tem) visita os grupos, provi¬dencia subsídios, promove reuniões e cur¬soS para os coordenadores, ali ~‘idades coo—
•jltlI las para todos os participantes. Os di¬versos grupos da paróquia, etc. ‘hurnhéni as vezes o grupo convida uma pessoa (211— tcndid:t cm um determinado assunto) para ajudá-lo), estudo de um tema ou planejamento de uma ação. Todas essas S~i() fo— niias de iij)OlO e as~:essO1-ia (ltJC o) gr tipo deve dpfl )W II dF.

5. Mas o ideal é que cada grupo possa ter um Assessor Fixo, urna pessoa unica, tendo aquela experiência e conhecimento de que falamos. Conheça a caminhada do Grupopo e Acompanhe de modo permanente o seu Processo de Crescimento

1:)) caso de adultos que 1h ‘do— iius (105 grupos e fl~() :tsSCssonesV Chega— 1(2110(5 la. 110) proxitllo iltitlieW!

domingo, 27 de junho de 2010

Falar de Deus aos que não creem

Thomas é um jovem cientista agnóstico que teve a boa ideia de querer se casar com uma filha de pastor. Então, o sogro, depois de algumas discussões que se imaginam como intensas, escreveu uma carta ao futuro genro para "explicar-lhe a fé cristã". Pode-se ler esse pequeno livro ("Lettre à mon gendre agnostique pour lui expliquer la foi chrétienne" [Carta a meu genro agnóstico para explicar-lhe a fé cristã], Ed. Labor et Fides, 2010, 102 páginas) em menos de duas horas, e a forma epistolar torna sua abordagem simpática.
A reportagem é de Marie Lefebvre-Billiez, publicada na revista Réforme, n° 3374, 24-06-2010. A tradução é de Moisés Sbardelotto.

Antoine Nouis começa com um enigma: como é que o cristianismo pôde se difundir tanto assim, já que o seu fundador, Jesus Cristo, morreu jovem, abandonado por todos os seus? Não é necessário levar a sério o testemunho dos seus discípulos que afirmam tê-lo visto novamente vivo depois da morte? Sobre essa base, o pastor reformado propõe uma reflexão em dois tempos: aquilo que a Bíblia diz sobre o homem, com uma análise do relato da Criação e os seus dois personagens emblemáticos, Adão e Eva. E depois aquilo que a Bíblia diz de Deus, aquele absoluto que se "restringiu", para que o homem exista livremente.

Por fim, Antoine Nouis propõe a fé como "uma aposta e uma luta". Por isso, lança o desafio de tentar: "O que você arrisca?". Não encontramos no livro palavras incompreensíveis de teologia, nem afirmações dogmáticas peremptórias. Mas muitas referências aos filósofos e aos teólogos judeus, que põem esse livro em um nível bastante intelectual.

Para Guy Belestier, secretário nacional encarregado da coordenação inter-regional para a evangelização da Igreja Reformada francesa, esse livro é "muito denso, rico de coisas sobre as quais se pode refletir e discutir, com narrações interessantes", como por exemplo "as pulgas na orelha do elefante". Porém, a obra não deve ser separada do seu contexto: "Ela se dirige a uma pessoa já em contato com a religião por meio da futura mulher e do sogro. É a consequência de um diálogo.

Dirige-se, portanto, a pessoas que têm o desejo de ir além, de entender e de pôr questões. Não é para não crentes que põem um outro tipo de questões, como 'Por que o mal?'. Não se fala disso". Segundo Guy Balestier, propôr a fé como uma aposta, exortando a experimentá-la, é uma coisa muito moderna e pertinente para um cientista. Isso põe a problemática em uma dinâmica triangular: compreender, crer, praticar. "Há muitos caminhos diferentes que levam à fé.

A frase, bastante evangélica, de 'belonging before believing' (pertencer antes de crer) é um dos tantos possíveis. A pessoa é levada ao caminho da vivência religiosa por uma comunidade que a leva. 'Viva as coisas e você vai ver!'". Entretanto, Guy Balestier adverte: uma pessoa que enfrente esse tipo de percurso terá a necessidade de ser acompanhada, além do livro.

Liberdade revolucionária

É justamente o caso de Estelle, 29 anos, que se define como "uma ateia que se coloca perguntas". Crescida sem nenhuma educação religiosa, não batizada, começou a se questionar no ano passado. Sentia uma "falta de espiritualidade" e fez um retiro de silêncio que lhe permitiu "descer profundamente em mim mesma".

O livro de Antoine Nouis permitiu-lhe aprofundar as suas interrogações. "Principalmente, é estranho viver sem se colocar o problema de saber se há uma outra dimensão além da de trabalhar para ganhar dinheiro e gastá-lo. E, depois, por que existe tantas pessoas na Terra que acreditam? Os ateus são uma minoria!

Por muito tempo, pensei que os crentes fossem estúpidos que tinham medo da morte. Com esse livro, me dei conta de que as pessoas não acreditam porque têm medo. É uma coisa muito mais complexa e profunda". Estelle achou muito interessante o ponto em que se fala da liberdade. "Nós somos livres para fazer erros e de dar as costas para Deus. Por isso, existem pessoas ateis como eu. Isso é revolucionário!".

Então, Estelle quis aceitar o desafio. Marcou um encontro com o padre da paróquia mais próxima. Mas ao mesmo tempo "tive medo de subverter os meus costumes, de não ser mais eu mesma, de perder os meus amigos. Não desejo arrastar os outros comigo". Ela pensa no seu companheiro, com o qual vive sem ser casada e do qual está grávida. O bebê, "decidimos não batizá-lo". Porém, ela deseja fortemente "continuar o meu próprio caminho, ir além. Tenho vontade de acreditar. Estou a caminho". Desejamos-lhe uma boa viagem.

quinta-feira, 24 de junho de 2010

Dom José Maria Pires - uma homenagem.

Esta semana - desde segunda 21 até hoje, quinta 24 estive em retiro e o pregador foi Dom José Maria Pires. Admiravel vê-lo em seus 91 anos e com sua grande disposição, sua espiritualidade, suas experiencias. Entrevista - Dom José Maria Pires Entrevista - Todos os dias são assim: Ele levanta às 5h da manhã, faz suas orações e vai à academia. Uma hora de exercícios. Trinta minutos de musculação e trinta minutos de esteira. Volta para casa, toma o seu café da manhã e vai trabalhar na horta que tem em casa. Almoça e começa a cumprir os compromissos de sua agenda. Com mais de 90 anos essa é a agitada rotina de Dom José Maria Pires; Bispo Emérito da Paraíba, defensor dos negros e dos mais pobres. Veja aqui nossa entrevista exclusiva e saiba de outras histórias interessantes de Dom José. Comunicação: Por quê o senhor também é conhecido como Dom Pelé e Dom Zumbi? Dom José: Na época em que assumi o Episcopado era o único negro. O jogador de futebol Pelé estava no auge de sua carreira. Um dia eu e um outro bispo bem gordo e bonachão chegamos atrasados para uma Assembléia. Então, alguém falou: - Chegou o Feola* e o Pelé. O apelido de Feola não deu certo, mas o de Pelé, pegou. Quem me deu o apelido de Dom Zumbi foi o Bispo Dom Pedro Casaldáliga. Estávamos na Serra da Barriga, em Alagoas, sede do Quilombo dos Palmares e Dom Pedro gritou, lá do alto, que eu era o Bipo Zumbi. Perguntei porquê e ele respondeu porque Zumbi teve um compromisso sério com os negros e que Pelé só era famoso e conhecido, mas não era compromissado. *Feola treinou a seleção brasileira de 1958, campeã do mundo na Suécia, e a de 1966, que disputou o título na Inglaterra. Seria o técnico em 1962, mas adoeceu e foi substituído por Aymoré Moreira. Comunicação:Por quê em 1995 o senhor renunciou ao cargo de Bispo da Paraíba? Dom José: Nessa época atingi a idade de 75 anos e de acordo com normas do Vaticano, temos que renunciar ao cargo. Pedi minha renúncia quando fiz 75 anos e fiquei aguardando no posto. Só quando completei 76 anos recebi a renúncia. O meu sucessor foi Dom Marcelo. Um grande homem, intelectual e apaixonado pelas artes. Reformou a catedral toda, logo quando chegou. Eu já não tinha mais energia para fazer o que ele fez. Mesmo com a renúncia, continuamos trabalhando, só que sem as responsabilidades que o cargo implica. Comunicação: O senhor atuou bastante na época da Ditadura militar. Como foi viver essa época. Dom José: Não tinha medo da censura. Falava sempre que era chamado. Fui paraninfo de muitas turmas que queriam ouvir minha fala de igualdade e solidariedade. Na época, como não se podia escrever ou publicar nada, utilizada só a oratória. Nunca fiquei calado. Comunicação: O senhor já foi preso pela ditadura? Dom José: Aconteceram dois casos muito interessantes. Eu sempre dei muita sorte. Uma vez ligaram para minha casa e perguntaram por mim. A pessoa que atendeu o telefone disse que estava viajando. Então, o policial do outro lado disse: - Ele deu muita sorte. Porque estávamos indo até aí agora “esvaziar os pneus dele.” Outra vez fui fazer uma visita pastoral à uma reserva indígena e me disseram que eu deveria pedir autorização para o tenente para poder entrar. Eu disse: - Não tenho que pedir autorização. Vou fazer uma visita religiosa. Desmarquei com um grupo de senhoras que me acompanharia e marquei com um rapaz. Paramos o carro na barreira e o policial pediu os documentos. Entreguei os documentos, ele olhou, olhou e no fim consegui passar.

domingo, 20 de junho de 2010

ASSESSORIA: UMA ARTE!


Alguns aspectos de assessoria na pastoral da juventude

01- Assessorar jovens na PJ não é uma ciência somente. É UMA ARTE. Aprende-se pela prática e pela reflexão desta pratica. Assessorar é EDUCAR: arte difícil. Arte de ser amigo, acompanhante, luz, inspiração.
02- CLAREZA DE OBJETIVO:
a- no trabalho com jovens o mais importante não é a técnica, mas a LIBERTAÇÃO do jovem.
b- Necessidade de reforçar sempre a ORGANIZAÇÃO e a autonomia de decisão dos jovens.
c- Eles são o sujeito da Historia.
d- Objetivo final: sociedade fraterna, igualitária, justa, construindo o Reino de Deus.
03- CONVERSÃO DE CLASSE DO ASSESSOR:
a- é necessário ter claro sua OPÇÃO preferencial pelos jovens.
(na Igreja – na PJ) na ótica dos empobrecidos: como referencial de mudança.
b- Vivemos numa sociedade de classes, com desdobramentos na divisão de classes:
- donos dos meios de produção – classe dominante
- trabalhadores: classe dominada.
c- é preciso reforçar a posição popular: seu saber / seu poder.
04- INSERÇÃO NO MEIO DO JOVEM
a- condição previa e indispensável.
b- Contato direto com os jovens.
c- Participar na sua vida / organização / cultura.
05- MISTICA:
a- conjunto de convicções e motivações fundamentais que animam o trabalho com jovens:
- amar os jovens: eles são os sujeitos / lutar por sua libertação
- confiança na força jovem: ACREDITAR na potencialidade dos jovens.
- Respeito à liberdade, à sua caminhada e iniciativas.
- Colocar-se à serviço de seus interesses verdadeiros.
06- MÉTODO:
a- AÇÃO – REFLEXÃO / PRATICA – TEORIA: > articula o pensar e o agir.
b- Método de reflexão: VER / JULGAR / AGIR / REVER /CELEBRAR.
07- METODOLOGIA: ajudar os jovens a passar de uma consciência ingênua para uma consciência critica.
a- diálogo: não é doutrinar.
b- Participação: lutar contra a opressão.
c- Comunidade: espaço coletivo / solidariedade / celebrativo
d- Revisão de vida e de pratica.
e- Lugar de mobilização.
08- LINHAS METODOLOGICAS:
a- incentivar sempre para a articulação: classes / meios específicos.
b- conhecimento profundo sobre o funcionamento da sociedade: local / nacional.
c- Usar sempre o Método VER / JULGAR / AGIR / REVER /CELEBRAR.
d- Para iniciantes: Processo de Iniciação: pedagogia do amadurecimento.
e- Para militantes: engajamento: Revisão de vida / revisão de pratica.
f- Engajamento:
- eclesial: outras pastorais.
- Sócio-politico: organismos intermediários.
g- Prática de respeito à ORGANIZAÇÃO, objetivos, metodologia e níveis de organização da PJ.
h- Procurar atingir os jovens que não participam da PJ – atividades de massa.
09- PONTOS DE ESTRANGULAMENTO NO TRABALHO DO ASSESSOR DE PJ.
a- tragado pela massa de apelos:
- do consumismo
- da subsidência
- da oposição à mudança
- da acomodação.
b- está desengajado da luta popular, do sindicalismo, da política, da posição de lideranças na Igreja: tem medo de radicalismo...
c- Não tem certeza se o trabalho com jovens é valido.
- ainda não fez sua OPÇÃO PELOS JOVENS.
- Tem outros compromissos pastorais que freiam...
d- Não tem uma metodologia adequada ao trabalho com jovens.
e- Não tem certeza do objetivo: para que serve tudo isto?
- desconfia: sabe intelectualmente, mas não tem convicção (a convicção é a chave para um bom trabalho).
f- Falta-lhe uma ESPIRITUALIDADE libertadora. Tem alguma relação com a vida de Cristo, sua causa, mas sente-se ainda despreparado.
g- Fica sozinho, não costuma reunir-se com companheiros de experiência, nem se associa em lutas comuns.
h- Não tem clareza dos meios – instrumentos de luta:
- reforma agrária / urbana
- alfabetização
- saúde popular / alternativas
- saneamento
- luta por emprego.
- Que instrumentos de luta são usados com tranqüilidade pelo assessor e pelo grupo de jovens?
- Qual é a prática que dá o substrato à reflexão do assessor?
i- Não sabe que HOMEM NOVO E MULHER NOVA E QUE SOCIEDADE NOVA QUER...
- civilização do amor – sociedade libertada > são conceitos vagos, usados como discursos, mas longe de uma pratica.
j- Espera resposta imediata.
- sente o peso quando não vê resultados, pois esquece que ao lado do testemunho e do convite, precisa esperar pelo amadurecimento do jovem e da sua opção.
10- O ASSESSOR DEVE:
a- pensar a longo prazo.
b- Missão e opção: caminham juntas.
c- Ter experiência de vida comunitária:
- grupo de vida comum
- inserção popular
- vivencia de alternativas: saúde, educação, mística, assessoria.
- Local de acolhida a jovens
- Cursos de formação
- Troca de experiência
- Vivencia de fraternidade – espiritualidade
- Entre ajuda: na realidade popular.
- Conflitos...
PASSAGENS BIBLICAS:
Lc 6, 12-15 = escolha dos doze
Lc 9, 1-6 = missão dos doze
Lc 10, 1-16 = missão dos 72
Dois tipos de assessoria:
- Perito
- Assessor de: Grupo de Base, Paróquia, Diocese, Província, Regional, Nacional.




sábado, 19 de junho de 2010

Morre aos 87 anos escritor português José Saramago

Morre aos 87 anos escritor português José Saramago. Ganhador do Nobel de Literatura morreu em sua casa, nas Ilhas Canárias, onde morava com sua mulher.


Espaço curvo e finito

Oculta consciência de não ser,
Ou de ser num estar que me transcende,
Numa rede de presenças e ausências,
Numa fuga para o ponto de partida:
Um perto que é tão longe, um longe aqui.
Uma ânsia de estar e de temer
A semente que de ser se surpreende,
As pedras que repetem as cadências
Da onda sempre nova e repetida
Que neste espaço curvo vem de ti.

(In OS POEMAS POSSÍVEIS, Editorial CAMINHO, Lisboa, 1981. 3ª edição)

quinta-feira, 17 de junho de 2010

Ubuntu para todos e todas! Selvino Heck *

Adital -

A Copa está revelando ao mundo a África do Sul e o povo africano, livre e alegre. Não podia ser melhor: na primeira década do século XXI, todos e todas podemos ver que os tempos de escravidão e apartheid já se foram e que, mesmo no chão sofrido, duro e pobre de seus países, emerge uma gente com virtudes e jeito de ser há muito perdidos pelos antigos colonizadores, que não puderam tirar o eterno sorriso, o olhar vivo das crianças e das mulheres, a cativante surpresa da felicidade estampada no rosto e na alma.

Os de língua portuguesa temos uma palavra intraduzível em outros idiomas: saudade. É aquela dor no coração que nos deixa tristes e lacrimosos, que nos faz suspirar fundo, que nos faz lembrar no fundo do coração de alguém ou de alguma coisa importante que acontece. Saudade é um estado de espírito.

Pois os africanos têm a sua ‘saudade’. É Ubuntu, "uma forma solidária e participativa de enxergar o mundo numa visão de mundo nascida em sociedades africanas, onde não se enxerga apenas o próprio umbigo, mais se vê o mundo de maneira holística, integrante e integradora. Ter ou ser Ubuntu é lutar contra qualquer tipo de discriminação, ter cidadania ecológica, esforçar-se para melhorar a vida do outro, participar da vida do outro, respeitar a opinião alheia e não humilhar e oprimir. É ser e estar em sociedade, sendo humano e agindo e interagindo com outros seres humanos" (Fátima Reis).

Ubuntu é uma palavra comum em várias línguas africadas, geralmente traduzida como humanidade. Tem muitos significados: amizade, solidariedade, compaixão, perdão, irmandade, ao amor ao próximo, capacidade de entender e aceitar o outro.

Segundo o Prêmio Nobel da Paz, o bispo sul-africano Desmond Tutu, "uma pessoa com Ubuntu está aberta e disponível aos outros, não preocupada em julgar os outros como bons ou maus, e tem consciência de que faz parte de algo maior e que é tão diminuída quanto seus semelhantes que são diminuídos ou humilhados, torturados ou oprimidos. É a essência do ser humano. Nossa humanidade são é afirmada se tem conhecimento da dos outros."

Ubuntu é uma ética ou ideologia da África. A palavra é de origem bantu. Ubuntu é um dos princípios fundamentais da nova república da África do Sul e está intimamente ligado à idéia de uma Renascença Africana. Na esfera política, o conceito do Ubuntu é utilizado para enfatizar a necessidade da união e do consenso nas tomadas de decisão, bem como na ética humanitária envolvida nessas decisões. No Zimbábue, Ubuntu tem sido usado como forma de resistência à opressão existente no país.

Estamos em tempos em que falta Ubuntu para homens e mulheres e para a humanidade. Vale o ter mais, vale o que posso juntar de bens materiais, o quanto compor todos os dias ou semanas no shopping-templo. Os outros só servem se posso me servir deles. As mansões estão cheias de grades e câmeras, porque o medo do outro supera a vizinhança e a solidariedade. As Bolsas de Valores todos os dias gritam seus milhões e bilhões, como se ficar rico resolvesse alguma coisa na vida. Há uma sede de amealhar bens, de buscar o luxo e o supérfluo. Para isso se fazem guerras, se submetem povos, como o próprio africano, por séculos e ainda hoje. Se alguém morre de fome ou está na miséria, que tenho a ver com isso? Se alguém sofre, ele ou ela que busquem solução onde ela estiver, desde que não me seja exigido nenhum gesto de apoio.

Mesmo no futebol, onde onze formam um time que deve jogar junto, coletivamente para chegar ao gol e à vitória, há falta de Ubuntu. "Olhando os fenômenos do futebol no mundo nos interrogamos: o que é paixão e cultura popular e o que é mercantilização? No lado interno, o futebol é paixão, pulsão e arte; no lado externo, ele é parte importante do mundo globalizado do capital e de um grande negócio. Hoje, cada vez mais, estes lados não se separam. Pelo contrário, convivem e se alimentam. Todos lucram o ano todo com o futebol. Como espetáculo planetário, é a face visível de um Império e um dos dispositivos mais potentes e universais da lógica do lucro. A mercantilização e a monetarização transformaram o futebol numa imensa máquina, que atua no macro e no micro, até o nível mais subjetivo dos corpos dos atletas e mentes dos espectadores. Podemos mesmo falar de ‘economia política do futebol’ como parte da economia política capitalista. Daí nos perguntarmos: o que resta de arte e paixão do povo neste mundo do ‘big business foot’? O que diria Mané Garrincha, eterno romântico, de tudo isso? Será que nada nos resta a não ser assistir ‘Garrincha, alegria do povo’, filme dos anos 60, de Nelson Pereira dos Santos e o mais recente e formidável ‘Invictus’ do diretor Clint Eastwood, em que Nelson Mandela nos mostra a postura político-pedagógica e cultural correta frente ao fenômeno do esporte?" (Cláudio Nascimento, Informativo - Rede de Educação Cidadã, jan/fev/mar 2010 - www.recid.org.br).

Para o ex-presidente e Prêmio Nobel da Paz Nelson Mandela, para ser feliz é preciso viver em coletividade, em harmonia com que está à sua volta: Ubuntu.
Os africanos nos transmitem Ubuntu. Que o futebol e a vida nos levem a viver intensamente!

* Assessor Especial do Presidente da República do Brasil. Da Coordenação Nacional do Movimento Fé e Política

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Chimamanda Adichie: O Perigo da história

Nossas Vidas e nossas Culturas são compostas e sobrepostas por muitas Histórias. A romancista Chimamanda Adichie, nigeriana, nos conta uma história de como descobriu A SUA VOZ cultural - e adverte que se ouvirmos apenas uma história sobre outra Pessoa ou País arriscamos saber apenas parte desta Pessoa ou deste País. Segue o endereço do site. se não abrir clicando em cima, basta copiar e colocar na barra de endereços. http://www.ted.com/talks/lang/por_pt/chimamanda_adichie_the_danger_of_a_single_story.html
Abraços

terça-feira, 15 de junho de 2010

Memoria a Gisley

Mi Cuerpo es Comida - Dom Pedro Casaldáliga


Mis manos, esas manos y Tus manos
hacemos este Gesto, compartida
la mesa y el destino, como hermanos.
Las vidas en Tu muerte y en Tu vida.

Unidos en el pan los muchos granos,
iremos aprendiendo a ser la unida
Ciudad de Dios, Ciudad de los humanos.

Comiéndote sabremos ser comida,
EI vino de sus venas nos provoca.
El pan que ellos no tienen nos convoca
a ser Contigo el pan de cada día.

Llamados por la luz de Tu memoria,
marchamos hacia el Reino haciendo Historia,
fraterna y subversiva Eucaristía.

domingo, 13 de junho de 2010

renovação do amor afetivo e efetivo pelos jovens

Ao celebrarmos, neste próximo dia 15 de junho, o primeiro ano de sua ausência, convidamos a todos a renovar o amor afetivo e efetivo pelos jovens e a reconsiderar os reais projetos pessoais e eclesiais a favor deles. Esta é a melhor homenagem que podemos prestar ao Pe. Gisley neste momento de oração e memória.
_____________
Obrigado, Senhor, pela vida do Pe. Gisley em nossa história! Quanto brilho nos olhos e quanta paz inquieta o moviam! A Igreja do Brasil, o Setor Juventude, os jovens dos quatro cantos e de todas as forças de evangelização não o esquecem e se alimentam de seus projetos e de suas ponderações.


Obrigado, Senhor, pelos seus familiares e pela família Estigmatina que os geraram e o formaram para ser um colaborador na construção de vosso Reino. Abençoai-os!

Renovai em nosso coração o amor por vós, Senhor, e auxiliai-nos para colocar-vos como centro de tudo, pois somente vós sois 'o Caminho, a Verdade e a Vida'. Quando nos desviamos desta verdade, tudo se confunde e se relativiza, perde o sentido e o sabor, gera violência, desumaniza!

Iluminai-nos em nossos projetos eclesiais para que melhor atendam, acolham, eduquem e promovam os jovens a serem vossos verdadeiros discípulos e missionários, evangelizadores privilegiados de seus próprios colegas, cidadãos cristãos a serviço da vida de todos.

Senhor, neste momento de saudades e esperança, acendei em nós a chama do amor junto aos jovens: "É preciso resgatar no coração de todos a paixão pela juventude!". Que este divino ardor desperte muitos jovens para o seu serviço no ministério sacerdotal e na vida religiosa. Que esta paixão provoque a criatividade e alimente a coragem de todas as lideranças juvenis e adultos na defesa da vida e dos valores dos jovens de nosso país, principalmente no combate às drogas e na luta contra uma vida desregrada e sem sentido.

Sagrado Coração, acolhei em vosso amor infinito o nosso querido Pe. Gisley e ajudai-nos a proclamar como ele: "Chega de violência e de extermínio contra a juventude".
Amém.

Campo Grande, 11 de junho de 2010.

Festa do Sagrado Coração de Jesus
Encerramento do Ano Sacerdotal

+ Eduardo Pinheiro da Silva, sdb
Bispo Auxiliar de Campo Grande, MS
e Referencial do Setor Juventude da CNBB

sábado, 12 de junho de 2010

“Pe. Gisley: sua vida em nossa história”


“Pe. Gisley: sua vida em nossa história”


“Eu dou a minha vida pelas minhas ovelhas” (Jo 10, 15).

Junto aos comemorativos do encerramento do Ano Sacerdotal, proclamado pelo Santo Padre, também recordamos, especialmente nestes dias, a vida do Pe. Gisley na vida da Igreja do Brasil, do Setor Juventude da CNBB e, de um modo todo particular, na vida de tantos jovens.

Há um ano ele se despediu da gente, sem a gente se preparar... sem nem mesmo entender o por quê. É assim a vida. Se não nos entregarmos *de corpo e alma *por uma boa causa, ela não passa de um amontoado de anos repletos de problemas para serem administrados. Alimentar sonhos sonhados com Deus exige projetos, renúncias, sacrifícios, entrega... amor até as últimas conseqüências.

Pe. Gisley acreditou na vida; apostou nela e descobriu um caminho que vinha dos desejos de Deus: ser religioso e sacerdote para os jovens e com os jovens. Certamente não realizou tudo o que pretendia, mas é inegável que viveu apaixonadamente a causa da juventude do Brasil que Deus lhe confiara em seu ministério. *Obrigado, Pe. Gisley, por esta opção de vida!

Ao celebrarmos, neste próximo dia 15 de junho, o primeiro ano de sua ausência, convidamos a todos a renovar o amor afetivo e efetivo pelos jovens e a reconsiderar os reais projetos pessoais e eclesiais a favor deles. Esta é a melhor homenagem que podemos prestar ao Pe. Gisley neste momento de oração e memória.

*Obrigado, Senhor, pela vida do Pe. Gisley em nossa história! Quanto brilho nos olhos e quanta paz inquieta o moviam! A Igreja do Brasil, o Setor Juventude, os jovens dos quatro cantos e de todas as forças de evangelização não o esquecem e se alimentam de seus projetos e de suas ponderações.
*Obrigado, Senhor, pelos seus familiares e pela família Estigmatina que os geraram e o formaram para ser um colaborador na construção de vosso Reino. Abençoai-os!
*Renovai em nosso coração o amor por vós, Senhor, e auxiliai-nos para colocar-vos como centro de tudo, pois somente vós sois ‘o Caminho, a Verdade e a Vida’. Quando nos desviamos desta verdade, tudo se confunde e se relativiza, perde o sentido e o sabor, gera violência, desumaniza!
*Iluminai-nos em nossos projetos eclesiais para que melhor atendam, acolham, eduquem e promovam os jovens a serem vossos verdadeiros discípulos e missionários, evangelizadores privilegiados de seus próprios colegas, cidadãos cristãos a serviço da vida de todos.
*Senhor, neste momento de saudades e esperança, acendei em nós a chama do amor junto aos jovens: “É preciso resgatar no coração de todos a paixão pela juventude!”. Que este divino ardor desperte muitos jovens para o seu serviço no ministério sacerdotal e na vida religiosa. Que esta paixão provoque a criatividade e alimente a coragem de todas as lideranças juvenis e adultos na defesa da vida e dos valores dos jovens de nosso país, principalmente no combate às drogas e na luta contra uma vida desregrada e sem sentido.
*Sagrado Coração, acolhei em vosso amor infinito o nosso querido Pe. Gisley e ajudai-nos a proclamar como ele: “Chega de violência e de extermínio contra a juventude”.
Amém.

Campo Grande, 11 de junho de 2010.

Festa do Sagrado Coração de Jesus
Encerramento do Ano Sacerdotal

+ Eduardo Pinheiro da Silva, sdb
Bispo Auxiliar de Campo Grande, MS
e Referencial do Setor Juventude da CNBB

quinta-feira, 10 de junho de 2010

15 de Junho: 1 ano do assassinato de GISLEY

ASSESSORIA NA PASTORAL DA JUVENTUDE - alguns apontamentos de 2002

"A Assessoria aos jovens sempre foi uma preocupação da Igreja. Basta recordar o que fala Medellin em seu capítulo sobre a juventude, e Puebla em sua opção preferencial pelos jovens. E basta olhar as diferentes respostas que se foram dando, tanto na programação e realização de encontros em todos os níveis, como no surgimento de Institutos dedicados especificamente a este serviço. O tema do 9o.Encontro Latino-Americano de Responsáveis Nacionais da Pastoral da Juventude não e, pois, uma casualidade: a identidade do assessor é hoje, ainda, objeto de busca e reflexão.

(...) Neste tempo privilegiado da Pastoral da Juventude Latino-Americana parece-nos oportuno partilhar nossas experiências sobre a identidade do assessor, porque este está chamado a ser, como diz o Documento de Santo Domingo (114) 'um elemento valioso para reafirmar não só de modo afetivo senão efetivamente, uma opção concreta por uma Pastoral da Juventude orgânica, onde haja um acompanhamento e apoio real com diálogo mútuo entre jovens, pastores e comunidades'."

"A consciência que vai brotando da prática e da reflexão sobre a Assessoria na Pastoral da Juventude, e que vai crescendo, é que A ASSESSORIA DA PASTORAL DA JUVENTUDE É UM MINISTÉRIO ECLESIAL numa Igreja que, em seu coração, é ministerial, a exemplo de Cristo que "não veio para ser servido mas para servir"(Mt 20,28).

O sentido de todo ministério é a edificação eclesial inserida no mundo. Corresponde a esta comunidade anunciar e viver o Evangelho e despertar para a fé, agradecer e celebrar os sacramentos, santificando a vida, servir à sociedade, principalmente os mais empobrecidos, e contribuir para a construção da justiça e da fraternidade.

A partir deste caráter ministerial podemos dizer que o assessor da Pastoral da Juventude é uma pessoa chamada por Deus para exercer um ministério a serviço dos jovens; um ministério que é assumido como opção pessoal, e para o qual é enviado pela Igreja contando com a aceitação dos jovens."

(...)"Todo ministério na comunidade se define pelo chamado e pela missão específica que lhe é confiada.

(1) O chamado é iniciativa do Pai em Jesus Cristo: "Vem e Segue-me"(Mc10,21), farei de vocês pescadores de homens"(mc 1,18), interiorizado pelo Espírito no encontro pessoal.

(2) A missão, também é iniciativa de Deus, é um 'envio a trabalhar para a chegada do seu Reino na história"(CL 58). Específica o âmbito do exercício do ministério - os jovens - e o tipo de serviço a desempenhar entre eles - acompanha-los em seus processos de educação na fé.

Este chamado e esta missão são mediados e discernidos pela Igreja: os pastores, a comunidade local e os próprios jovens percebem juntos uma necessidade real da comunidade - neste caso, dos próprios jovens - e reconhecem a utilidade deste MINISTÉRIO.

Convém desenvolver estes dois aspectos referentes a missão.

(1) O âmbito do ministério do assessor são todos os jovens. Isso implica para o assessor:

(a) superar os limites do pequeno grupo ou dos jovens integrados na Pastoral da Juventude;

(b) sentir-se enviado, dentro do conjunto da juventude latino-americana, especialmente aos mais pobres e aos mais afastados(DSD,112);

(c) embora se fale da juventude latino-americana como um conjunto, considerar os diversos meios específicos onde os jovens se agrupam, seja por suas atividades (operários, agricultores, estudantes) seja por suas culturas (indígenas, afro-americanos) seja por suas situações de vida (migrantes, marginalizados, situações críticas);

(d) continuar especificando cada vez mais seu ministério de assessor em função do ambiente juvenil ao qual é enviado.

(2) O tipo de serviço: o assessor é enviado aos jovens para acompanha-los em seus processos de educação na fé."

"A identidade do assessor da Pastoral da Juventude, com toda a riqueza de dimensões que integra, determina também o papel do assessor, isto é, o conjunto de atitudes, funções, posicionamentos e estilos de vida e ação que põe em prática para o cumprimento de sua missão, em íntima e coerente relação com seu próprio ser e com sua própria realidade.

Sua identidade teológico-pastoral leva-o a assumir seu papel na chave ministerial; sua identidade espiritual o faz viver seu papel a partir do amor de Deus a ele e aos jovens, e com amor a Deus e aos jovens; sua identidade psicológica o leva a assumir, com maturidade, um papel de escuta, abertura, acompanhamento e encarnação; sua identidade pedagógica determina seu papel de educador com uma pedagogia de proposta e acompanhamento e não de imposição; e sua identidade social traduz-se num papel de ator na transformação da sociedade.( cf. Assessoria e Acompanhamento na Pastoral da Juventude \ Conclusões... 9o. ELARPJ \ Seção Juventude-CELAM, CCJ, 1993)

"A Igreja inteira do Continente fez uma opção preferencial pelos jovens. Esta opção significa que Deus, o Pai, fixou seu olhar neles e que nos pede que vamos a eles. Significa que nós reconhecemos o amor de Deus por estes jovens e a confiança que deposita em nós. Significa que nós aceitamos pôr nossa atenção, nossa preocupação, nosso tempo onde Deus pôs sua vontade carinhosa...

Somente podemos fazê-lo se estamos muito convencidos de que o Pai-Deus - antes que nós, quer na Igreja de seu Filho, a cada um dos jovens; se estamos convencidos de que independentemente de todas as suas características e de todas as suas deficiências, o Pai decidiu oferecer-lhes nossa Igreja para que vivam nela plenamente e trabalhem em nossa própria obra de evangelização"(D.Sijas Herbé, na apresentação do Plano da Pastoral da Juventude da Diocese de São José de Maio, Uruguai).

sábado, 5 de junho de 2010

A espiritualidade na construção da paz - Leonardo Boff


Adital -

Todos os fatores e práticas nos distintos setores da vida pessoal e social devem contribuir para a construção da paz tão ansiada nos dias atuais. Os esforços seriam incompletos se não incluíssemos a perspectiva da espiritualidade.

A espiritualidade é aquela dimensão em nós que responde pelas derradeiras questões que sempre acompanham nossas indagações: De onde viemos? Para onde vamos? Qual o sentido do universo? Que podemos esperar para além desta vida?

As religiões costumam responder a tais indagações. Mas elas não detêm o monopólio da espiritualidade. Esta é um dado antropológico de base como é a vontade, o poder e a libido. Ela emerge quando nos sentimos parte de um Todo maior. É mais que a razão, é um sentimento oceânico de que uma Energia amorosa origina e sustenta o universo e cada um de nós.

No processo evolutivo de onde viemos, irrompeu, um dia, a consciência humana. Há um momento nesta consciência em que ela se dá conta de que as coisas não estão jogadas aleatoriamente ou justapostas, ao léu, umas às outras. Ela intui que um "Fio Condutor" as perpassa, liga e re-liga.

As estrelas que nos fascinam nas noites quentes do verão tropical, a floresta amazônica na sua majestade e imensidão, os grandes rios como o Amazonas chamado como razão de rio-mar, a profusão de vida nas campinas, o vozerio sinfônico dos pássaros na mata, a multiplicidade das culturas e dos rostos humanos, a misteriosidade dos olhos de um recém-nascido, o milagre do amor entre duas pessoas apaixonadas, tudo isso nos revela quão diverso e uno é o nosso mundo universo.

A este "Fio Condutor" os seres humanos chamaram por mil nomes, de Tao, de Shiva, de Alá, de Javé, de Olorum e de outros mais. Tudo se resume na palavra Deus. Quando se pronuncia com reverência este nome algo se move dentro do cérebro e do coração. Neurólogos e neurolinguistas identificaram o "ponto Deus" no cérebro. É aquele ponto que faz subir a frequência hertz dos neurônios como se tivesse recebido um impulso. Isto significa que no processo evolutivo surgiu um órgão interior pelo qual o ser humano capta a presença de Deus dentro do universo. Evidentemente, Deus não está apenas neste ponto do cérebro, mas em toda a vida e no inteiro universo. Entretanto, é a partir daquele ponto que nos habilitamos a captá-lo. Mais ainda. Somos capazes de dialogar com Ele, de elevar-lhe nossas súplicas, de render-lhe homenagem e de agradecer-lhe pelo dom da existência. Outras vezes, nada dizemos, apenas O sentimos silenciosos e contemplativos. É então que nosso coração se dilata às dimensões do universo e nos sentimos grandes como Deus ou percebemos que Deus se faz pequeno como nós. Trata-se de uma experiência de não-dualidade, de imersão no mistério sem nome, da fusão da amada com o Amado.

Espiritualidade não é apenas saber, mas, principalmente, poder sentir tais dimensões do humano radical. O efeito é uma profunda e suave paz, paz que vem do Profundo.

Desta paz espiritual a humanidade precisa com urgência. Ela é a fonte secreta que alimenta a paz cotidiana em todas as suas formas. Ela irrompe de dentro, irradia em todas as direções, qualifica as relações e toca o coração íntimo das pessoas de boa-vontade. Essa paz é feita de reverência, de respeito, de tolerância, de compreensão benevolente das limitações dos outros e da acolhida do Mistério do mundo. Ela alimenta o amor, o cuidado, a vontade de acolher e de ser acolhido, de compreender e de ser compreendido, de perdoar e de ser perdoado.

Num mundo conturbado como o nosso, nada há de mais sensato e nobre do que ancorar nossa busca da paz nesta dimensão espiritual.

Então a paz poderá florescer na Mãe Terra, na imensa comunidade de vida, nas relações entre as culturas e os povos e aquietará o coração humano, cansado de tanto buscar.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Testemunho Missionário

Acompanhamos nestes dias a noticia do desaparecimento do jovem Pedro - Pedrão. Hoje tivemos noticias de que seu corpo foi encontrado nas águas do Rio Negro.
Postamos aqui sua carta de despedida quando partiu de São Paulo para São Gabriel da Caxoeira onde foi ser missionário.
Que fique para nós seu testemunho de jovem inquieto e que suscite mais e mais jovens com coragem de dizer todos os dias: "Eis-me aqui, Senhor! Envia-me"
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Nota de falecimento

É com pesar que informamos que o corpo de Pedro Yamaguchi Ferreira foi encontrado hoje (3), ao meio-dia (horário local), a cerca de 40 km de distância da cidade de São Gabriel da Cachoeira (AM). Uma embarcação do Exército fez a localização.

Pedro estava em São Gabriel da Cachoeira desde fevereiro deste ano atuando como advogado da Pastoral Indigenista na diocese daquela cidade.

Na última terça-feira (1º), antes do almoço, Pedro, que tinha 27 anos, saiu para tomar um banho nas águas do Rio Negro, e não retornou para casa.

Acompanhe o discurso de Pedro, proferido na missa de sua despedida da capital paulista:

Queridos familiares, amigos e amigas.
Em primeiro lugar, quero dedicar essa missa a minha madrinha Glaucia, que nos deixou há uma semana. Tenho um sentimento de que ela vai olhar por nós e alegrar um pouco mais o céu. As maiores lembranças que tenho dela são o seu sorriso e sua luta pela causa ambiental. De alguma forma, sinto que posso dar seguimento ao que ela tanto ensinava como geografa e professora. Essa missa é em memoria dela.
Quero agradecer a cada um de vocês pela presença nesta noite, isso representa muito pra mim e me dá muita força para seguir a caminhada. Celebramos hoje, na Igreja da Boa Morte, a vida, a esperança de dias melhores.
Sei que não estamos reunidos esta noite por mim apenas: todos os que estão aqui querem um mundo melhor para si; para seus filhos. Todos queremos paz, alegrias, amizade, justiça. Este encontro serve para renovarmos nossos sonhos.
Agradeço de forma especial as pessoas que prepararam com tanto carinho essa missa: a Marcelo da Pastoral da Juventude, a Pe Valdir e dona Vera, a toda a comunidade alianca da Misericordia, nas pessoas de Pe Enrico e Antonelo, ao pessoal da banda e a todos e todas que permitiram que esta noite acontecesse. Pe Valdir, aliás, que foi o pai desta minha ideia de ir pra Amazânia. Desde fazer contato com o bispo de São Gabriel da Cachoeira, até falar com todos os padres e irmãs para que autorizassem meu envio. Muito obrigado por toda a ajuda, Pe Valdir.
Quero saudar meus amigos da alianca da misericórdia. Por ceder essa igreja, que é vossa casa.
Saibam que vocês têm enorme influência na minha vida e nessa minha decisão: desde o primeiro momento, quando conheci um montão de jovens que moravam na favela do moinho e faziam pastoral carcerária, logo fiquei encantado com o que vi.
Eram jovens dedicando suas vidas a melhorar a realidade dos mais marginalizados: os moradores de favelas e os encarcerados.
Nas muitas vezes que estive com eles, sempre me identifiquei com aquela vocação e sentia alguma coisa arder mais forte no meu peito. Sabia que faria algo parecido.
Vocês vivem a solidariedade na essência na palavra, vivem pela causa social com compromisso e verdade. Parabéns e muito obrigado pelo exemplo.
Quero abraçar todos meus familiares. Meus tios e tias, pais e mães pra mim, e meus irmãos. Meus primos e primas, que são meus outros irmãos e irmãs. Carrego voces no coração, assim como carrego a lembrança de meus quatro avós, os quais tive a enorme felicidade de conhecer e conviver. Sinto que eles estão comigo. Sempre os senti por perto e sei que eles nos protegem. Dedico também a eles minhas alegrias.
Brindo com todos meus amigos e amigas, da rua, de colégio, de faculdade, das lutas, da vida. Pela amizade e companheirismo. Obrigado por me ensinar. Espero que nossa amizade possa ser preservada e se fortalecer ainda mais, nos sentimentos de solidariedade com os outros, no amor pelo país, na luta por mais igualdade social, autonomia e liberdade das pessoas e tolerência com as diferenças. Tamo junto!
Aos amigos dos meus pais, que se tornaram meus amigos. Obrigado por todo exemplo de luta e dedicação a uma militância que exigiu muito tempo do lazer e conforto de vocês e de suas famílias. Carrego vocês comigo também! Muito obrigado pela presença.
Agradeço o carinho dos amigos de Carlos de Foucalt. Obrigado pela amizade e acolhida. Terei mais oportunidade de conhecer os ensinamentos de Foucalt. De alguma forma, já me sinto muito influenciado por essa espiritualidade, desde minha infância, através de meus pais, e agora, por todo esse processo da minha decisão, quando estive rodeado por vocês. Muito obrigado.
Quero agradecer, de forma muito especial aos meus queridos amigos e amigas companheiros de Pastoral Carcerária. Obrigado pela oportunidade que me deram, por confiarem e apostarem em mim. Pela amizade e paciência que tiveram comigo. E, sobretudo, pelo exemplo de fé e compromisso com a causa carcerária e humana. Vocês são verdadeiros guerreiros, pessoas iluminadas. Faltam palavras pra descrever tudo o que vivi nestes 3 anos de Pastoral. Quero, do fundo do coração, agradecer a oportunidade de ter compartilhado com vocês momentos dos quais nunca esquecerei. A presença missionária dentro da Pastoral influenciou a minha escolha. Carrego vocês, os presos e as presas, comigo. Que tenhamos dias melhores, em que nossa sociedade respeite os direitos dos cidadãos presos. Muito obrigado!
Aos meus queridos pais, também faltam palavras. Obrigado pelo exemplo, por nos ensinar a olhar pelo outro, a ter consciência do mundo em que vivemos, a lutar por nossos sonhos. Muito obrigado por serem parceiros comigo e com meus irmãos em nossas investidas, em nossos projetos.
Amo muito você, pai e você, mãe.
Aos meus queridos irmãos, todo meu amor e amizade. Vocês são pessoas especiais pra mim, trazem mais energia pra minha vida, são minha sustentação.
Espero estar tão perto de todos vocês mesmo estando longe. Carrego vocês nesta luta. Desde já peço perdão pelas vezes que precisarem de mim e que estarei ausente. Obrigado pelo apoio.
Essa minha decisão de viver essa experiência na Amazônia é fruto do convívio com a realidade dos cárceres e a realidade social em sua forma mais cruel, o lado B de nosso País: o País dos esquecidos, dos humilhados. Pude estar em contato com a miséria da miséria, a injustiça, a segregação social e racial, a dor, o esquecimento. Ter visto de perto situações desconhecidas pela maioria das pessoas, ter conhecido um País que ainda maltrata seus cidadãos, tudo isso me despertou pra necessidade de luta, de trabalho para a profunda transformação dessa realidade.
De forma geral, vejo os poderes de Estado ainda muito elististas. Não conhecem de verdade a realidade de seu povo, a pobreza, a falta de dignidade e cidadania que sofrem milhões de cidadãos, não conhecem os cárceres. Mantêm-se distantes daquilo que deveria ser a essência de seu trabalho: o bem comum do povo, sobretudo daquele que mais necessita das instituições para a garantia de seus direitos. Privilegiam o status, o poder, as facilidades materiais em detrimento dos direitos fundamentais das pessoas.
As leis, a Constituição Federal infelizmente não são as mesmas para todos. A justiça é justa para poucos. Os direitos de alguns são mais importantes que de outros. Lutar pela terra é crime. Mas não é crime a situação daquela pessoa que vive em condicoes sub-humanas nas favelas, sem dignidade nenhuma, sem comida. Furtar é crime. Mas não é crime quando o Estado amontoa milhares de presos e presas numa lata, os tortura impunemente, e viola todos seus direitos previstos nas leis. Temos dois Países: o País dos privilegiados, dos que têm acesso à riqueza, à cultura, ao lazer, aos bens materiais, às melhores oportunidades e o País dos esquecidos, que não têm direitos, não têm oportunidades, e ainda são criminalizados.
Devemos mudar, acredito que estamos avançando, mas é preciso muito mais, não podemos permitir retrocessos nas conquistas dos direitos.
Precisamos acabar com a segregação racial. Vejamos os direitos dos índios, como têm dificuldade para ser implementados. Vejamos a diferença entre os salários de negros e brancos. Vejamos os preconceitos que os nordestinos ainda sofrem no sul. A discriminação que sofrem as mulheres. Isso tudo ainda existe, é verdade, tristemente sentido no cotidiano.
Somos um País extremamente desigual na distribuição de renda. Somos top 10 no ranking de desigualdade. Num país com 200 milhões de habitantes, os 10% mais ricos detêm 50% da riqueza. Os 10% mais pobres, apenas 1% dessa riqueza. Os moradores de favelas pagam proporcionalmente mais impostos que os ricos.
4 milhões de famílias no Brasil precisam bos benefícios de uma reforma agrária. Sem contar outros milhões que vivem em condicoes sub-humanas e que precisam de mudanças.
Nosso mundo tem 1 bilhão de pessoas que vivem abaixo da linha da pobreza, com menos de 2 dólares por dia. No Brasil, são 7,5 milhões de pessoas que vivem na linha da pobreza.
Para mudar essa realidade, precisamos democratizar cada dia mais o poder econômico e o poder político. Não permitir que o capital econômico mande nas políticas dos países, em detrimento das conquistas e avanços sociais.
Não dá para ficarmos tranquilos diante de tanta injustiça. Porque preferimos a anestesia à luta? Porque não deixemos de lado um pouco nosso conforto para pensarmos e agirmos por uma sociedade melhor?
Viajo para a Amazônia para colaborar, como cidadão e advogado, com as comunidades ribeirinhas, os índios, a questão ambiental. A discussão que está em voga hoje é a ambiental e, realmente, ela se faz necessária e urgente.
A natureza cada vez mostra com mais forças seu poder e sua revolta contra o que fazemos com ela. Utilizamo-la com interesse econômico e sem preocupação com os demais seres que nela vivem. Não nos preocupamos com o amanhã. E ela não está feliz com isso. Lembremos dos tsunamis, dos furacões, dos terremotos, dos deslizamentos.
Olhemos para nossa cidade de São Paulo, nesse mês de janeiro, o tanto que choveu. Os estragos das chuvas nos lugares mais precários. Infelizmente os efeitos climáticos atingem de forma pior os mais pobres, os que moram em áreas de risco, nas beiras dos rios.
Insistimos em desmatar nossas florestas. Somos o 5º pais no mundo que emite mais gases poluentes e 75% desses gases vêm do desmatamento. Matamos nossa floresta para alimentar o mercado externo, americano e europeu. Faz sentido isso?
Do que adianta exercitarmos uma consciência ecológica se não questionamos nosso próprio anseio consumista que desgasta a capacidade da natureza e acelera a degradação do meio ambiente? Devemos exigir de nos sacrifícios pelo bem da sobrevivência da natureza e nossa também.
Apenas para exemplificar, com situações cotidianas: será que precisamos ter 50 pares de sapatos em nossos armários? Dezenas de peças de roupas que depois ficam armazenadas? Será que todos precisamos de carro em detrimento do transporte público? Precisamos tomar duas vezes ao dia banhos de 30 minutos? Devemos pensar que nosso padrão de consumo gera desigualdades e agride a natureza, e é preciso abdicar desse modelo.
Sinto nessa minha escolha um pouco de negação, ainda que temporária, do modelo civilizatório ocidental consumista e destrutivo em que vivemos – e, pior, que achamos bom. Desejo buscar na natureza, com os índios, valores humanos que se sobreponham às ilusões da civilização.
Penso que, diante de toda a realidade miserável que pude ver, não posso ficar inerte, tocando minha vida como se a vida do outro nada tivesse a ver com a minha. Me sinto na obrigação de colaborar com nosso povo.
Não é preciso ir até a Amazônia para mudar essa realidade social brasileira. A cidade de SP está cheia de problemas a serem resolvidos, e todos vocês podem colaborar para mudar essa situação. Visitem a favela do moinho, o jardim pantanal, uma unidade prisional. Certamente lá existem muitos problemas e as pessoas precisam de ajuda!
Mas, nem só de lutas vive o homem. Quero viver, escrever uma gostosa poesia de minha vida. Poder respirar um ar puro, contemplar a mata e os animais, estar em contato com culturas diferentes, jogar mais futebol, estar no paraíso natural. Como diz a poesia do sambista Candeia, cantada na voz de Cartola: “deixe-me ir, preciso andar, vou por ai a procurar, sorrir pra nao chorar. Quero assistir ao sol nascer, ver as águas do rio correr, ouvir os pássaros cantar, eu quero nascer, quero viver”.
Para terminar, dois lindos poemas do nosso querido dom Pedro Casaldaliga, grande figura que me inspirou profundamente e a quem tive a enorme felicidade e privilégio de conhecer em São Felix do Araguaia:

"Pobreza Evangélica

Não ter nada.
não carregar nada.
não poder nada.
e, de passagem, não matar nada;
não calar nada.
Somente o Evangelho, como uma faca afilada,
e o pranto e o riso no olhar,
e a mão estendida e apertada,
e a vida, a cavalo, dai.
E este sol e estes rios e esta terra comprada,
para testemunhas da revolução ja estourada.
E mais nada.

Epilogo Aberto

Atenho-me ao dito:
A justiça,
apesar da lei e do costume,
apesar do dinheiro e da esmola.

A humildade,
para ser eu mesmo, verdadeiro.

A liberdade
para ser homem.
E a pobreza
para ser livre.
A fé, cristã,
para andar de noite,
e, acima de tudo, para andar de dia.

E, seja como for, irmaos,
eu me atenho ao dito:
a Esperança."

Deixo aqui um convite para que todos venham visitar a Amazônia. Para quem quiser conhecer o paraíso. Não se arrependerão. As portas lá sempre estarão abertas a vocês. Espero vocês numa visita.
Muito obrigado por virem, quero dar um abraço em cada um de vocês!

terça-feira, 1 de junho de 2010

Testemunho

O texto do Hilario ja trouxe algumas reações e partilho especialmente a do Felipe da Silva Freitas que é o jovem responsável pela Campanha Nacional contra o exterminio de jovens.

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Amado Hilário,

A profecia de suas palavras chegaram ao meu ouvido. Seu compromisso juvenil, marcado com o fogo revolucionário do espírito, inspiraram-lhe a romper o silêncio nefasto que, muitas vezes, ameaça a vida e a dignidade da nossa juventude. Você me encheu de esperança com seu texto!

Concordando com tudo o que apresentas em tua reflexão, fico a pensar ainda no quanto temos deixado morrer nossos grandes acúmulos no que tange a evangelização da juventude. Como é grave a falta de assessoria. Falta assessor(a) jovem, falta assessor(a) adulto(a), falta assessor(a) religioso(a), enfim, é uma carência que ameaça a sobrevivência de grupos e deixa sem apoio dezenas e dezenas de jovens que, antes organizados(as) em grupos de base, agora vagueiam entre as várias "castas eclesiais" em expressões religiosas que respeito mas que, sob nenhuma hipótese, podem ser chamadas de pastorais da juventude ou de células de base do processo de educação na fé, como antes vinhamos lhe batizando.

Ora, como vamos refletir sobre tudo isso num contexto de Congresso Latino Americano? Como pensar a evangelização e os frutos no pós-Documento 85? Como avaliar os impactos da Campanha Nacional contra a violência e o extermínio de jovens na perspectiva de denunciar a morte, defender a vida e apresentar propostas concretas de fortalecimento do tecido social na perspectiva do empoderamento juvenil e na construção da política como alternativa social num contexto violento e desumanizador?

Fico com todas essas questões divagantes em minha cabeça e em meu coração.

Na coordenação da Campanha Nacional contra a violência e o extermínio de jovens pude rodar o Brasil no ano passado conhecendo espaços importantes da articulação da evangelização da juventude. Tal experiência, se por um lado me encheu de esperança no sentido de ver a criatividade e as multiplas formas organizativas que a juventude vai fazendo na base, por outro, me entristeceu, na medida em que violentamente me indicou que nós, Pastorais, Centros e Igreja de um modo geral, temos sido incapazes de recepcionar toda a criatividade e a esperança juvenil lançadas no mundo como sementes do reino.

Nossa capacidade de articular, de organizar, de sistematizar, de pôr em intercâmbio as experiências está muito, muito aquém da velocidade e das demandas que a juventude cotidianamente apresenta e aí, temos um verdadeiro descolamento entre os interesses da juventude empobrecida, de quem nós enunciamo-nos como parceiros, e os discursos das lideranças politizadas ou dos assessores(as) bem formados(as), muitas das vezes senhores de suas próprias razões e não missionários de uma evangelização popular.

A notícia do fechamento do IPJ - RS chega a mim dentro desta conjuntura de profundo assombro perante uma crise séria. Não conheço exatamente as articulações e as histórias do IPJ RS para poder sobre este fato específico tecer comentários maiores. Contudo, posso sobre esse episódio específico lançar duas posições uma a título de depoimento e outra a título de reflexão:

1) Mesmo nunca tendo pisado na sede do IPJ RS e nunca tendo tido qualquer contato direto com este Instituto também me sinto de certo modo filho do IPJ RS assim como somos filhos e filhas desses Instituto as centenas e centenas de jovens, que, em todo o país, aguardaram ansiosos a cada novo material, a cada fita VHS, a cada panfleto ou jornal que, do sul, era distribuido nos encontros nacionais e rodavam o país como instrumento de formação de grupos de jovens.

Como muitos e muitas fui formado pelo material das atividades permanentes, pelas cartilhas da CAJU, pelos jornais Mundo Jovem, e, entre outros subsídios pelo FASCINANTE E AINDA ATUAL "Caminhando e Crescendo".

Saber desta triste notícia sobre o IPJ RS é, de algum modo, saber que parte da nossa história (da juventude católica) está sendo arrancada de sua casa.

2) Uma segunda questão é um tentar inserir este fato no contexto, pois, como você mesmo nos ensina todo dia, grande Hilário, não tem texto sem contexto.

Ora, porque as crises financeiras, de recursos humanos, de apoio logístico atingem apenas, ou, principalmente, a nós? Porque, num momento em que a "questão juvenil" encontra-se tão em alta uma organização pioneira nesse debate entra em colapso? Porque faltam vozes como a de Hilário para bradar questionando o silêncio ante a crise nesta bela experiência intercongregacional?

A resposta a estas perguntas e às outras que antes formulei talvez estejam na necessidade de recomeçarmos alguns caminhos em defesa de velhos princípios. Educação Popular, Metodologia de Base, Apoio às pequenas organizações, Evangelização Inculturada, Celebrações Fé e Vida, são bandeiras que precisam ser reerguidas a partir dos novos desafios do século XXI.

Nas minhas andanças na Coordenação Nacional da Campanha contra Violência e o Extermínio de Jovens senti (tenho sentido) a solidão como um grande desafio. A falta de estrutura para as pastorais, os problemas de comunicação entre as lideranças nacionais, a falta de assessoria na base e a insuficiência de espaços para a formulação acadêmica e política sobre juventude dentro da Igreja. Quanto nós, jovens da Igreja, temos sofrido com essas faltas todas.

Como depoimento, devo dizer que tem sido sofrida a tarefa de atuar na coordenação nacional sem que exista, por parte da Igreja, um aparato suficientemente forte (como de certo modo vimos criando nos últimos 30 anos, o IPJ RS é só um exemplo disso) capaz de acolher as necessidades, sonhos, projetos e utopias juvenis. Repito, a Igreja não tem sido boa acolhedora da ousadia juvenil.

Quando a Igreja não nos apequena no sentido de pedir-nos paciência, calma, tolerância, ou, em várias outras palavras, menos profecia e mais conservação e tem nos relegado uma condição de certo abandono, pois, depois de formar-nos e permitir que sonhemos muito e muito alto não nos dá o aparato necessário para continuar a crescer e aí o sentimento é de abandono, frustração e isolamento (confesso que me sinto um pouco assim).

"Cria-se um filho para depois matá-lo"

Óbvio, não quero negar o quanto a Igreja para mim é decisiva no meu processo de descoberta pessoal e comunitária, na construção de laços sociais profundos, no enrriquecimento do meus conhecimentos e na minha formação acadêmica e política, sem falar na sólida base moral e nas efetivas oportunidades de vivência comunitária e de experiência democrática. Contudo, parece que a "corda que nos foi dada" uma hora será puxada para que regressemos ao estreito limite do terreiro e aí, quando "puxam a corda" colocam-nos diante de uma difícil questão: rompê-la, e por conseguinte abandonar a experiência pastoral, como é a opção de muitos companheiros; ficar com a corda esticada apertando o pescoço e sofrendo com a solidão e o abandono; ou, regressar e acomodar-se no pequeno campo estabelecido abandonando qualquer turbulência em relação ao poder institucional.

Me parece que esta imagem representa bem o momento em que temos vivido.

Assim, solidarizo-me à sua angústia e aos seus questionamentos, amado Hilário, e digo-lhe que me alimento da sua utopia que é também a do próprio Cristo e de tantas e tantos amantes da juventude como fora o também querido Pe. Gigi de quem este mês celebramos a Páscoa.

Encerro com a esperança dos Cristão e Cristãs que, em meio a morte, afirmam a vida como insistência insubordinada que persiste nos meios mais adversos. Que venha o Congresso Latino e nos permita sempre sonha como o novo céu e uma nova terra....

Abraços, cheiros, beijos e carinhos,

Felipe

Contradições

Amigos e amigas:
E iniciando partilho com voces este texto que recebi de um amigo querido, pe. Hilário Dick e que nos alerta para uma realidade complexa, mas que precisamos tomar conhecimeto.
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ESTATELAMENTO DO IPJ/RS
e os/as religiosos/as com isso?
Hilário Dick
Um apelo à CRB do Rio Grande do Sul e do Brasil
fazendo memória do P. Gisley Azevedo - estigmatino

Gostaríamos tanto de falar de tudo que os/as religiosos/as já fizeram e fazem pela juventude, no Brasil e na América Latina, mas agora precisamos falar outras coisas porque não é hora de ficar calado. Escrevemos depois de saber do 7º padre morto, no ano de 2010, por causa da juventude e, dentre eles, o P. Gisley Azevedo , o único religioso entre os sete e que foi assassinado com três tiros na cabeça, em Brazlândia. Nossa indignação e nossa reflexão se orientam, de modo especial, para os que fazem parte da Vida Religiosa e vamos ater-nos a quatro aspectos. Sabemos que não são palavras fáceis nem agradáveis. Mesmo que a resposta seja o silêncio, leia quem quiser ler e discuta quem quiser discutir e melhorar a situação.

1. ESCÂNDALO OU COVARDIA DOS RELIGIOSOS?

Os 30 anos do IPJ, com sede, primeiramente, em Porto Alegre e, depois, no bairro Niterói, em Canoas/RS, vão ser festejados com um triste fechar de portas, pelas mesmas Congregações que, um dia, se alegraram com o seu nascimento. Muito triste porque os 30 anos, de tantos serviços à juventude, parecem ter-se tornado uma memória que precisa ser esquecida. Cria-se um filho para matá-lo depois. Assim como aconteceu com a Ação Católica e quase está acontecendo com a Pastoral da Juventude.

A dúvida é se isso (o fechamento do IPJ/RS) é um escândalo ou se é uma covardia. Desde seu início, em 18 de janeiro de 1980, o IPJ foi um serviço dos religiosos do Sul 3 à Igreja do Rio Grande do Sul para a evangelização da juventude. Comandavam-no três objetivos: formação, assessoria e pesquisa. Quantos cursos, seminários e retiros; quantas viagens pelas dioceses; quantas publicações, servindo de alimento para adultos e jovens; quanta alegria e quanta descoberta! Até no campo da pesquisa e da produção, como se trabalhou... Era um serviço de uma inter-congregacionalidade visitado e admirado por vários/as Superiores/as Gerais, pondo-se a serviço da evangelização da juventude. Mesmo com algumas dificuldades, funcionou durante 30 anos. O que aconteceu? Se o IPJ perdeu sua atualidade, saber-se-ia dizer alguma razão ou é, tristemente, a mudança de um cenário de Igreja? Falta de recursos financeiros? Falta de recursos humanos? Se a resposta for financeira, é um escândalo porque todos sabem que isso não é verdade e todos sabem que trabalhar com jovens nunca deu lucro; se a resposta for falta de recursos humanos é uma covardia descarada porque todos sabem que existem agentes (leigos e religiosos), preparados, com vontade doida de dedicar-se a este serviço, com uma remuneração digna. Se a motivação é ideológica ou de cenário de Igreja, a covardia e o escândalo se tornam mais sérios porque isso não se confessa. Isso se faz, mesmo que na surdina.

Se lermos o documento 85 da CNBB – Evangelização da Juventude – Desafios e Perspectivas Pastorais, vamos descobrir que, fora aquilo que se refere ao “Setor”, lá se encontra formalizado o que o IPJ/RS, em comunhão com a Igreja e a Pastoral da Juventude da América Latina, sempre defendia. Além dos variados serviços prestados, não foi com a ajuda do IPJ que também se iniciou, no Brasil, o primeiro dos Cursos de Pós-Graduação em Juventude, fazendo que a juventude se tornasse um assunto encarado com mais cientificidade? Mais ainda: um dos objetivos do IPJ não era exatamente o estudo e a pesquisa da realidade juvenil? Há, contudo, religiosos/as que afirmam que um IPJ não precisa de pesquisa... Motivo de escândalo e de covardia é uma Conferência de Religiosos, ou uma parte dela, confessar que não está em condições de manter viva uma obra com os objetivos do IPJ/RS. O que parece ter acontecido é que terminou nela, numa parte da Vida Religiosa, o encanto pela juventude... Não falamos da juventude que está sob as asas das Congregações, principalmente em seus colégios; falamos dos milhares de grupos de jovens espalhados pelas paróquias e dioceses que não podem contar com o apoio das famílias de religiosos/as que dizem ter, como carisma, o trabalho com a juventude. Não ter olhos para esta realidade é escândalo e covardia. E é por aí que o IPJ prestava seu serviço nem sempre acolhido por autoridades, mas sempre agradecido pelos jovens, isto é, pelas juventudes vivendo sob as asas das paróquias, dioceses e regionais, muitas vezes necessitadas de apoios humanos e financeiros. Eram os religiosos/as servindo uma Igreja que ia além das “nossas obras”. Daí o escândalo e a covardia.

2. CAMPANHA CONTRA O EXTERMÍNIO

Os 30 anos do IPJ, com sede, primeiramente, em Porto Alegre e, depois, no bairro Niterói, em Canoas, vão ser festejados com um triste fechar de portas, pelas mesmas Congregações que, um dia, se alegraram com o seu nascimento. Muito triste porque os 30 anos, de tantos serviços à juventude, parecem ter-se tornado uma memória que precisa ser esquecida .

Como é lastimável dar-nos conta que, enquanto se fecham as portas deste IPJ, a juventude da Igreja e, também, a juventude fora da Igreja está empenhada numa Campanha inusitada: a Campanha contra a violência e o extermínio de jovens, procurando fazer ouvir o grito A Juventude quer viver”. Em vez de procurar o encanto pela juventude e ser fiel ao carisma de trabalho com a juventude, religiosos/as decidem o extermínio de uma obra onde o coração, há 30 anos, era a juventude. Não se está fechando uma paróquia; não se está fechando um colégio; está-se fechando uma obra cuja alegria era colaborar teológica e pedagogicamente na construção do empoderamento juvenil para jovens que vinham de colégios públicos, de periferias e interiores pobres, de paróquias e dioceses necessitadas, alegrando-se e servindo-se de uma instituição mantida por religiosos/as que amavam a juventude sem esperar lucros a não ser os lucros que significam os valores de personalidades ajudadas em sua descoberta do sentido da vida. Vão dizer que a comparação com o “extermínio” é apelativa, mas perguntem ao coração da juventude que precisava disso se ela vão dizer o mesmo. Perguntem por quanto tempo tudo aquilo que significava “IPJ”, em 2006, além de não saber para onde ir, ficou na poeira dos corredores por vários meses porque era urgente que o Curso de “Design” tivesse uma moradia em Porto Alegre... Sabemos que a juventude de “nossos” colégios não precisava dessa obra; mas trata-se de uma minoria, nem sempre a mais pobre, que tem ginásio coberto, computador, colégios limpos, piscina etc. para atrair alunos, mas não sabemos se é isso que eles (os adolescentes e jovens) querem no mais profundo deles. Por isso, a desconfiança do atendimento que se dá a eles... Quantos educadores de “nossas” instituições estudam juventude? É que já sabemos tudo e basta viver o dia a dia. Por que estudos mais especializados?Não adianta de nada... Sabemos que não é esse o discurso de todos, mas ele é real. Por isso insistimos no “extermínio”. Acabar com o IPJ é uma forma de exterminar a juventude, tirando dela mais um espaço de vida, partilha e acompanhamento.

3. A PREOCUPAÇÃO TRISTE PELO ESPÓLIO

Pensando no estatelamento do IPJ a preocupação é a biblioteca, o banco de dados, a memória histórica e tantas outras coisas que o IPJ foi adquirindo nos 30 anos. A imagem que nos vem à cabeça está em João 19,23-24: Quando crucificaram Jesus, os soldados repartiram as roupas dele em quatro partes. Uma parte para cada soldado. Deixaram de lado a túnica. Era uma túnica sem costura, feita de uma peça única, de cima até embaixo. Então eles combinaram: “Não vamos repartir a túnica. Vamos tirar a sorte, para ver com quem fica”. Em nosso caso, parece que a túnica ficou com a CNBB, embora alguns “soldados” tenham demonstrado interesse por alguns objetos... Isso não significa que seja algo ruim, mas nos preocupa.

Um aspecto que faz entristecer é que o responsável pelo imóvel alugado, vendo a situação de dificuldades financeiras, não foi nem ouvido quando dizia e pedia que o IPJ ficasse ali, mesmo só pagando, como aluguel, um preço simbólico de uma coisa de nada. Não! A sorte do extermínio já estava lançada, seguida até de uma ameaça: Por favor, não fiquem pensando em lançar ao mundo a memória dos 30 anos... Atitudes desse tipo parece que expressam vergonha de tudo que se fez.


4. LONGE DA JUVENTUDE

São gestos como este do “estatelamento” que confirmam os levantamentos que existem, no momento, sobre a distância dos religiosos/as da juventude. Há alguns anos atrás, quando se viam sacerdotes, religiosos e religiosas participando das movimentações de jovens em Assembléias, em Encontros Regionais com mais de 45 mil jovens e outros eventos juvenis da Igreja, quando você entrava nos seminários e perguntava aos seminaristas e vocacionadas/os onde aprenderam a ter vontade de ser religioso/a ou padre a resposta era: no meu grupo de jovens. A juventude dos grupos de hoje que diga o que eles enxergam... Que se escutem, também, tantos jovens religiosos/as que gostariam de ser tratados/as como jovens e trabalhar com juventude, mas são levados a trabalhar numa Pastoral Vocacional que, muitas vezes, não tem nada a ver com juventude... Pode ser, até, um discurso exagerado, mas que é uma realidade é; só não aceita quem enterra a cabeça na areia para não ver. Até poderíamos atrever-nos a perguntar pelos sonhos com a juventude e pela evangelização da juventude que tiveram os responsáveis pelo IPJ nos últimos anos. Sabemos que generalizar essa afirmação é perigoso, mas sabemos que se lá estivesse um grupo preocupado, de fato, com a boa notícia para a juventude, ter-se-iam encontrado soluções para as dificuldades que não faltam em qualquer parte. Uma preocupação que surge no horizonte é que as diferentes comunidades religiosas parece que se esqueceram que são da Igreja e se estão fechando na formação de juventudes segundo os diversos carismas, sem muita preocupação com um trabalho orgânico com aquilo que são as Pastorais de Juventude. Não negamos que isso seja um direito e, até, uma obrigação. O que condena essa atitude para a frustração é deixar de lado a preocupação e a convicção que tudo isso tem sentido numa decidida inserção orgânica na vida eclesial.

CONCLUSÃO

Se quisermos sobreviver como religiosos/as e sermos, dentro e fora da Igreja, uma manifestação da profecia embutida em nosso carismas, não há outra saída do que o re-encanto pela juventude. Temos o dever de amar a juventude. Mais, até, do que encantar-nos, precisamos deixar-nos seduzir pela realidade teológica escondida na juventude como semente oculta do Verbo. É uma forma de escaparmos de uma esterilidade que perdeu a alegria da novidade.

Gostaríamos de não ficarmos somente neste discurso de indignação. Gostaríamos que estas linhas gerassem algo dentro de nós, nos inquietasse e nos incomodasse a fazer algo diferente, mas em prol de toda a juventude. Gostaríamos muito que nos consultassem sobre o novo serviço que – pelo que parece - pensa ser construído. As necessidades são muitas, mas não nos esqueçamos da juventude que mais deseja e mais precisa.

Iniciando

Boa Noite amigos e amigas.

Hoje descobri que desde 2004 tenho este blog, mas nem me lebrava mais de sua existencia. Estive pensando em partilhar aqui minha experiencia em assessoria na Pastoral da Juventude, ligada a Igreja Católica. Muitas pessoas escrevem ou dão sugestão de publicar os susbidios que tenho sobre a assessoria na PJ. Eu tenho desenvolvido este ministerio desde o ano de 1984.

Creio que posso contrubuir com o que tenho acumulado em experiencia, seja respondendo a questões relacionadas a PJ ou mesmo com subsidios que tenho arquivado. Espero com isto poder contribuir com a evangelização da juventude na realidade atual. Abraços, Onivaldo